Projeto Bruno Vieira futuro jornalista
- O PAPO
- 5 de out. de 2020
- 3 min de leitura
Reprovar todos os alunos, aprová-los automaticamente ou discutir cada caso? Veja as alternativas das escolas no ano de pandemia
Reter estudantes aumenta evasão, mas aprovar todos pode gerar lacunas na aprendizagem. Conselho Nacional da Educação deixa decisão para escolas e redes de ensino.

Reprovação em ano de pandemia é questionada por especialistas. — Foto: Divulgação/xaxa29/VisualHunt
Nem todos os alunos tiveram acesso ao ensino remoto no período de suspensão das aulas presenciais. Especialmente nas famílias mais pobres, problemas de conexão à internet, por exemplo, impediram que crianças e jovens acompanhassem atividades on-line durante a pandemia.
Diante da desigualdade no acesso à educação, é certo reprovar estudantes em 2020? Se todos forem aprovados automaticamente, como lidar com as lacunas deixadas por meses sem contato com os professores?
Há, ainda, a preocupação com os alunos do 3º ano do ensino médio. Caso sejam retidos, podem desistir da escola para ingressar no mercado de trabalho. Por outro lado, se forem aprovados, não terão o ano letivo de 2021 para recuperar conteúdos que deveriam ter sido ensinados em 2020.
Em parecer do Conselho Nacional da Educação (CNE), órgão do MEC, a recomendação é rever os métodos de avaliação e adotar medidas que “minimizem a retenção escolar”, já que “os estudantes não podem ser mais penalizados ainda no pós-pandemia”.
É especificado, no entanto, que a decisão deve ser tomada por cada escola ou rede de ensino, tanto pública, quanto particular.
Como representante do setor privado, a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) diz que a determinação deve ser “da escola, analisando as atividades não presenciais, a qualidade dos resultados e, principalmente, o desenvolvimento de habilidades”.
O importante é fazer avaliações diagnósticas, segundo Maria Angela Barbato Carneiro, coordenadora do Núcleo de Pesquisas do Brincar da PUC-SP e professora da universidade. "A partir dos resultados, devem ser traçados planos de recuperação para 2021", diz.
Abaixo, veja os diferentes posicionamentos de especialistas em educação, pedagogos, secretários de redes estaduais e coordenadores de colégios particulares do país. São cinco sugestões:
aprovar todos os estudantes;
permitir a reprovação apenas nas escolas particulares, onde houve acesso ao ensino remoto;
cancelar o ano letivo das escolas públicas e reprovar todos os seus alunos, para dar oportunidade de aprenderem de fato em 2021;
juntar os anos letivos de 2020 e 2021, pensando em reprovação só no fim do biênio;
avaliar cada caso individualmente.
1. 'Todos aprovados automaticamente'
“Reprovação? Nem pensar. É uma situação inusitada, seria muito injusto. Fechamos as escolas em março, no começo do ano letivo - não houve nem tempo de conhecer os alunos. Como vou avaliar o que aprenderam?”, questiona Raquel Lazzari, professora na Faculdade de Educação da Unesp de Assis (SP).
JA Ideias: reprovação e evasão escolar são desafios na área da educação
“Alguns sequer tinham computador ou internet. E, mesmo em escolas particulares, não acho certo reprovar. Foi um período muito diferente para alunos e professores.”
Marcia Sigrist Malavasi, docente da Faculdade de Educação da Unicamp, concorda. “Ninguém deve ser reprovado durante a pandemia. É inadequado, irresponsável. Não temos a menor possibilidade de ver quais as condições da criança ou do jovem em casa”, diz.
“O momento é de planejar o que vai ser feito na retomada, para recuperar o que não foi absorvido. Não é hora de pensar em aprovar ou reprovar alguém.”
As especialistas reforçam que a retenção já era uma medida discutível antes da pandemia. Segundo Lazzari, o aluno que repete de ano corre maior risco de perder o interesse pelos estudos e de abandonar a escola.
E, mesmo que continue estudando, dificilmente terá as lacunas na aprendizagem preenchidas.
“Não adianta reprovar e fazer tudo de novo, do mesmo jeito, para resolver o problema. Ele já não aprendeu da primeira vez”, diz.
O ideal seria repensar os métodos de ensino no ano seguinte e estabelecer planos de recuperação contínua e de aulas de reforço. Não basta passar o aluno para a série seguinte.
2. 'Alunos das particulares tiveram aula on-line. Podem ser reprovados'
Coordenadores e diretores de escolas privadas defendem que seus alunos têm condições financeiras privilegiadas, que lhes permitem acompanhar o ensino remoto sem dificuldade.
Fora problemas pontuais com internet instável ou falta de luz, todos tiveram acesso a aulas e avaliações on-line durante a pandemia.
Portanto, caso não atinjam o desempenho esperado, podem, sim, ser reprovados na visão das instituições particulares.
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