Projeto Bruno Vieira futuro jornalista
- O PAPO
- 12 de out. de 2020
- 3 min de leitura
Violência contra mulher: 'Vítimas estão morrendo sem conseguir fazer denúncias', diz juíza
Renata Gil é primeira mulher a presidir Associação dos Magistrados Brasileiros e lidera campanha 'Sinal Vermelho', iniciativa que autoriza pedido de ajuda em farmácias. Leia entrevista.

Juíza Renata Gil, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) — Foto: AMB/Divulgação
A pandemia do novo coronavírus e as medidas de distanciamento social trouxeram à tona casos de violência doméstica. As mulheres, especialmente as mais pobres, têm sido as mais afetadas em todo país, mostram levantamentos publicados pelo G1, por meio do projeto Monitor da Violência.
No Distrito Federal, houve um aumento de 13% no número de flagrantes relacionados à Lei Maria da Penha, segundo a Polícia Civil. Por outro lado, as denúncias caíram durante o período de isolamento. Entre janeiro e julho deste ano, foram 9.702 registros, contra 9.910 no primeiro semestre de 2019.
À frente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a juíza Renata Gil de Alcântara Videira – primeira mulher a presidir a AMB em 70 anos – se tornou pioneira ao liderar a campanha nacional "Sinal Vermelho". Em junho, em um dos picos da pandemia, a iniciativa tornou as farmácias pontos de denúncia e de ajuda às mulheres violentadas.
"Recebemos relatos de mulheres mantidas há 10 anos em cárcere privado que viram a campanha [Sinal Vermelho] na TV e foram até a delegacia", conta a juíza.
Renata diz que ficou impressionada com o alto número de processos de violência contra a mulher. "É o quarto maior volume na Justiça brasileira, segundo o CNJ [Conselho Nacional de Justiça]", explica.
Por outro lado, diz ela, "quando veio a pandemia, vimos aumento do número de feminicídios e o decréscimo dos registros dessas ocorrências". Para a magistrada, o problema está na subnotificação dos casos.
"Os dados indicam que mulheres estão morrendo sem conseguir fazer denúncias", diz a presidente da AMB.
Campanha Sinal Vermelho — Foto: Reprodução/ TV Grande Rio
No Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher, celebrado no sábado (10), o G1 conversou com a juíza Renata Gil de Alcântara Videira sobre os "efeitos colaterais" do isolamento na vida de mulheres e sobre meios de ajuda às vítimas.
"Embora a violência aconteça em todas as classes sociais, as de baixa renda têm maior dificuldade em denunciar e enxergar que são vitimas de violência, que o que sofrem em casa é crime."
Veja pontos da entrevista com a juíza Renata Gil:
Campanha Sinal Vermelho
Mulheres e violência durante a pandemia
Judiciário no combate à violência contra a mulher
Mecanismos de prevenção
Medidas protetivas
Tipos de violência
Leia a entrevista
Juíza Renata Gil, presidente da AMB — Foto: AMB/Divulgação
G1 - Como a campanha Sinal Vermelho se propõe a ajudar, de forma prática, as mulheres vítimas de violência?
Juíza Renata Gil - Hoje, mais de 11 mil farmácias aderiram à campanha em todo país.
"A ideia é de que as mulheres vítimas sinalizem a violência marcando um 'X' na mão, o que pode ser feito com um batom ou uma tinta vermelha. Dessa forma ela consegue pedir ajuda discretamente em locais como farmácia e drogarias."
Durante esse período, recebemos relatos de mulheres mantidas há 10 anos em cárcere privado, que viram a campanha [Sinal Vermelho] na TV e foram até a delegacia, escreveram o pedido de ajuda em papel.
Tem também o caso de uma deficiente auditiva e muda que fez o 'x' na mão, fotografou no celular e encaminhou a foto para a farmácia próxima de casa, que acionou a polícia.
"A campanha tenta também chamar a atenção para o problema de o Brasil ser o quinto país mais violento do mundo em crimes contra as mulheres."
Estamos atrás apenas da Rússia, Honduras, Guatemala e Venezuela. Isso, enquanto temos a terceira melhor lei do mundo. Há um descompasso: temos a Lei Maria da Penha, um sistema de jurídico potente, varas funcionando, mas atentados contra mulheres crescendo.
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